18 Agosto 2023
Quatro prisioneiros com pouco mais de 1,5 metro de altura, muito jovens e ágeis como acrobatas, estão montando um teto improvisado feito de sacos pretos no pátio principal do presídio de Pucallpa, uma cidade de cerca de 325 mil habitantes, que é a capital da região de Ucayali, na Amazônia peruana. Esticam, torcem, levantam, penduram e amarram como se os movimentos fossem coreografados, criando uma área de sombra para um visitante.
A reportagem é de Pamela Huerta e Iván Brehaut, publicada por InfoAmazonia, 17-08-2023.
Sob a lona improvisada, eles colocam uma mesa e duas cadeiras de plástico. A poucos passos de distância, pintada no chão polido, está a bandeira do Brasil. Solitária, se destaca. É um sinal da hegemonia do Comando Vermelho (CV), cujo nome as pessoas ali têm medo de dizer em voz alta.
Uma bandeira do Brasil é pintada no chão do pátio da prisão em Pucallpa, capital da região de Ucayali, no Peru. (Foto: InfoAmazonia | Pamela Huerta)
“Tem ‘vermelhos’ aqui, mas eu não os conheço”, diz um dos presos à repórter visitante. Como é que ele sabe que são membros do CV? “É o que dizem nas notícias. Eu não sei de nada. No meu pavilhão de celas, só tem um”, ele acrescenta, nervoso.
Ele não vai falar mais nada e pede para mudar de assunto, porque “essas pessoas são perigosas”. “É melhor não se envolver com eles”, adverte, enquanto lança um olhar secreto para o alto, em direção às celas que cercam o pátio. A prisão abriga 2.531 detentos, 2.418 homens e 113 mulheres, mais de três vezes a sua capacidade oficial, de 800.
O CV é uma das facções mais perigosas do Brasil. Ele tem suas raízes em rebeliões prisionais na década de 1970, quando os presos buscavam melhores condições no extinto presídio de Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Porém, a organização logo se transformou em uma facção que fez do tráfico de drogas uma de suas principais atividades econômicas. O grupo começou a assumir o controle das rotas estratégicas de tráfico de cocaína, especialmente nas fronteiras do Brasil com o Peru e com a Colômbia. Tabatinga, a cidade amazonense localizada nessa tríplice fronteira, sempre foi uma de suas posições-chave.
Para construir esse banco de dados, consultamos fontes primárias e documentos em todos os municípios fronteiriços amazônicos do Brasil, Colômbia, Venezuela, Peru, Equador e Bolívia.
Isso mudou em 2020, quando, em busca do controle absoluto na cidade, o CV se envolveu em uma disputa sangrenta com duas outras facções: a Família do Norte e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Todos foram enfraquecidos pela disputa, permitindo o surgimento de um novo grupo de dissidentes das três quadrilhas, chamado Os Crias.
Nesse mesmo ano, o mundo ficou paralisado pela pandemia de Covid-19, e os mercados globais, incluindo os ilegais, enfrentaram situações críticas. O CV, com seu domínio reduzido, deslocou-se para Ucayali, uma região peruana que faz fronteira com o Brasil, onde o cultivo de coca, principal ingrediente da cocaína, está se expandindo.
De acordo com dados da Comissão Nacional para o Desenvolvimento e Vida Sem Drogas (DEVIDA) do Peru, em 2022 havia 14.531 hectares de plantações de coca na região quase quatro vezes a área registrada em 2020, ano em que a presença do CV foi detectada. (Arte: InfoAmazonia | Reprodução)
María* é uma jovem Shipibo-Konibo de uma comunidade indígena do distrito de Callería, na província de Coronel Portillo, em Ucayali. Ela tinha 19 anos quando conheceu o homem que ainda considera o amor da sua vida. Na época, ela tinha um parceiro e dois filhos. “Eu tinha 12 anos quando engravidei da primeira”, lembra ela. Ela era apenas uma criança, embora não pense assim. Ela fala em termos ingênuos semelhantes quando se lembra do membro do CV que, segundo ela, a cortejou e a convenceu a fazer uma tatuagem com o nome dele em seu antebraço, adornada com um coração e que se estende quase do cotovelo até o pulso.
Ela é uma das 113 mulheres na prisão numa madrugada de abril. Seu cabelo ruivo está preso em um coque alto e bagunçado, e ela está usando uma blusa estampada que mostra os ombros. Seus brincos de argola de ouro contrastam com o batom rosa que ela passou naquela manhã.
Agora com 24 anos, passou os últimos três anos no presídio de Pucallpa por tráfico de drogas. Ela tentava entrar no presídio com pasta base de cocaína para entregá-la a seu cunhado, que era próximo o homem que se tornou seu namorado. “Foi injusto”, diz ela. “Eu não sabia. Confiei nele, porque era da família”.
Em sua comunidade natal, a coca é cultivada especialmente por aqueles que falam espanhol melhor e podem estabelecer conexões com mestiços – pessoas que não são indígenas. Não há muitas opções para ganhar a vida, diz ela. “Eles escolhem nossas comunidades principalmente porque, como estão muito distantes, a polícia nunca vai lá. Ninguém vai lá.”
Aquela zona onde ninguém vai – uma zona remota mesmo para o governo, e que, segundo fontes policiais, é controlada pelo CV – é a região em torno do rio Abujao e da bacia hidrográfica de Utiquinía, a sudeste de Pucallpa. A maioria das comunidades é indígena, e pessoas que trabalharam na área dizem que ninguém entra ou sai sem que o CV saiba.
“Já se passaram seis meses desde que estive lá pela última vez. É caro ir, por causa do custo do combustível. Mas posso entrar e sair porque sou de lá. Eu tenho minha fazenda lá, e eu tenho família lá”, diz um agricultor de Abujao que vive em Pucallpa agora.
Ex-funcionários do governo regional, que pediram anonimato, confirmam o depoimento dele, dizendo que foram proibidos e ameaçados pelo CV quando tentaram iniciar projetos na área.
Os barcos de passageiros viajam para o Rio Abujao a partir do porto de Pucallpa, no Rio Ucayali, uma viagem que dura entre 10 e 15 horas, dependendo da época do ano. Para um visitante, o cenário de floresta e água parece todo igual, mas um piloto de barco experiente reconhece os pontos de referência discretos. Na estação seca, quando os níveis de água são baixos, apenas canoas podem navegar pelo Abujao e outros afluentes do Ucayali.
Fontes do Escritório Regional de Inteligência da Polícia Nacional dizem que começaram a ver brasileiros ligados ao CV na área em 2015, mas foi em 2020 que puderam confirmar que a organização criminosa havia se enraizado na região. Eles são cautelosos ao identificar membros do CV, porque alguns criminosos, quando presos, alegam pertencer ao grupo para impor medo, dizem eles.
No entanto, a polícia antidrogas identificou como membros do CV um grupo de traficantes de drogas envolvidos em um confronto armado com a polícia no último dia 2 de agosto, em Callería, o distrito que inclui a bacia hidrográfica de Abujao. Um policial foi ferido e, depois que os traficantes fugiram, a polícia apreendeu cocaína, armas de fogo, munição e um telefone celular.
As drogas são transportadas por rio até a tríplice fronteira compartilhada por Peru, Colômbia e Brasil, e por “mochileiros” por terra até a fronteira brasileira. (Imagem: Laura Kurtzberg | InfoAmazonia)
María conheceu o homem cujo nome leva tatuado através de seus irmãos, que começaram a colher coca para um traficante de drogas local quando eles tinham 12 anos de idade. Os irmãos não sabem ler ou escrever, então ganham dinheiro colhendo folhas de coca até suas mãos sangrarem. Primeiro, eles o apresentaram como José. Depois, ela descobriu que esse não era seu verdadeiro nome. Ela diz que foi tratada por ele como uma princesa, embora María o descreva como um homem atraente, sem pudores.
“Eu via ele todo mês, toda vez que ele vinha buscar seu carregamento. Ele transportava cocaína dentro de tijolos, no seu barco de madeira, para que a polícia não suspeitasse de nada, sabe? Então ele me avisava e eu ia para onde ele estava hospedado. Eu ficava três dias e depois ele partia com o carregamento”, diz ela, com um olhar de nostalgia.
De acordo com policiais e outras fontes, que pediram anonimato, a região de Abujao é uma área liberada, controlada inteiramente pelo CV, onde a pasta base de cocaína é produzida e depois transportada por rio para o Brasil. Uma área controlada pelo grupo concentra-se em torno da comunidade rural de Nuevo Utiquinía, às margens do Rio Utiquinía. Fontes dizem que é um ponto importante para o armazenamento de drogas para embarque, mas é difícil para as autoridades obterem acesso.
“Os brasileiros contratam moradores da comunidade para suas operações. Às vezes, você vê eles andando pela comunidade com seus sacos ou movimentando dinheiro. Todo mundo sabe no que eles estão envolvidos, mas você precisa ficar quieto ou eles podem enviar alguém para fazer você desaparecer. É o que os próprios membros da comunidade dizem durante o almoço ou o jantar”, diz um ex-funcionário público que trabalhou na área há cerca de quatro anos.
A área de coca plantada na região peruana de Ucayali quadruplicou entre 2020 e 2022, segundo dados oficiais. (Foto: Alex Rufino | InfoAmazonia)
O coronel Luis Wong Briceño, chefe do gabinete de Ucayali da Unidade de Antidrogas da Polícia Nacional, DIRANDRO, diz que várias operações policiais foram realizadas na comunidade Shipibo-Konibo de Flor de Ucayali, no Rio Utiquinía. “Laboratórios são destruídos, as plantações de coca são eliminadas, mas eles continuam fazendo”, afirma.
De acordo com os dados da DEVIDA, Flor de Ucayali tinha 219 hectares de plantações de coca em 2022, um aumento de 34% em relação a 2020.
A DEVIDA não tem estatísticas para outras comunidades indígenas em Ucayali, ou para outras comunidades rurais conhecidas como comunidades campesinas. De acordo com Carlos Figueroa Henostroza, presidente executivo da DEVIDA, a agência apenas monitora as comunidades que solicitam sua assistência, e em Ucayali eles trabalham apenas com a Flor de Ucayali. A aceitação da ajuda da agência no desenvolvimento de outras fontes de renda, no entanto, não significa necessariamente que o tráfico de drogas não continue.
A falta de dados levanta questões sobre a precisão das estimativas do Peru em relação à produção de coca, bem como a quantidade de cocaína que pode ser produzida a partir dela. O sistema de informação oficial do Peru sobre drogas, conhecido como SISCOD, só mostra a potencial produção anual de cocaína para Ucayali até 2020, quando, segundo os seus números, foram produzidas 35 toneladas. Não existem estimativas para a produção, uma vez que a presença do CV na região foi confirmada.
Figueroa diz que a única maneira de tentar eliminar a economia da coca na bacia hidrográfica de Abujao seria usar o “modelo do Peru”, uma estratégia implementada em 2015 e recentemente resgatada, que envolve a erradicação das plantações de coca, sanções por atos ilegais e esquemas alternativos de desenvolvimento para fornecer às famílias uma renda de fontes legais, como cacau, café ou piscicultura.
“Essa é a única maneira de resgatar populações vulneráveis do tráfico ilícito de drogas e incluí-las no desenvolvimento”, diz ele.
Apesar desses esforços, no entanto, a produção de coca e cocaína no Peru continua aumentando. As comunidades remotas mais atrativas para os traficantes de droga, onde as oportunidades de emprego e de educação são escassas ou inexistentes, também estão longe dos mercados de cultivos alternativos. E nenhum negócio é tão lucrativo como o tráfico de drogas ou o garimpo ilegal, que também se deslocou para a bacia hidrográfica de Abujao.
Em uma casa de madeira com um cômodo de palha nos arredores de Puerto Breu, no distrito leste de Yurúa, na região de Ucayali, dois jovens se sentam no chão enquanto um relaxa em uma rede. Os três estão atentos aos visitantes indesejados. Eles chegaram da cidade de Bolognesi, no Rio Ucayali, viajando quase 200 quilômetros nos últimos cinco dias, a maior parte a pé. Cada um carregou um pacote de drogas de 15 quilos.
Eles estão fazendo isso há um ano, dizem eles, indo parte do caminho em motocicletas ao longo de uma estrada acidentada que é lamacenta e esburacada, mas larga o suficiente para equipamentos de extração de madeira. Eles atravessam rios com turbulentos em barcos. Mas o trecho mais longo da rota, através de uma floresta densa, é uma trilha cheia de lama, sobre riachos e barrancos, e passando por enormes árvores e campos de coca. São seus companheiros ao longo do caminho, as abelhas e os mosquitos que, atraídos pelo suor, se alimentam do sangue deles.
As drogas fabricadas em Ucayali são contrabandeadas de barco, em pequenos aviões e por traficantes de drogas como estes três, conhecidos no Peru como “mochileiros”. De acordo com fontes da DIRANDRO, a unidade de polícia antidrogas, o CV envia principalmente drogas pelo Rio Ucayali e pela Amazônia para cidades como Tabatinga e Leticia, na tríplice fronteira com a Colômbia e o Brasil. A mesma rota é utilizada pelos traficantes da região vizinha de Loreto. Outros traficantes embarcam em pequenos aviões, principalmente para a Bolívia, a partir de mais de 70 pistas de pouso abertas nas florestas de Ucayali, dizem as fontes. E alguns enviam quantidades menores por terra com mochileiros.
A casa onde os três homens estão alojados perto de Breu pertence a uma mulher que vive em Pucallpa e tem familiares numa comunidade indígena nesta região. Fica ao lado de uma estrada de barro, com tons vermelho e amarelo, que leva ao menor e mais remoto dos portos da cidade. Do lado de fora, o edifício parece abandonado, cercado por ervas daninhas, sem linhas elétricas, nem mesmo uma latrina para os visitantes. Os únicos sinais de vida são alguns pedaços de plástico pendurados do lado de fora e a fumaça de um pequeno fogo para cozinhar.
Dois dos homens são de Satipo, uma cidade na principal região de cultivo de coca do Peru, o Vale do Rio Apurímac, Ene e Mantaro, ou VRAEM, por suas iniciais. O terceiro é de São Francisco, no Alto Vale do Ene, o coração daquela região. Dois jovens Ashéninka, de uma comunidade do distrito de Yurúa, que serviram de guia durante o último trecho do percurso, saem de casa quando um visitante começa a fazer perguntas.
Uma mulher passa pelo porto de Pucallpa, capital da região de Ucayali, no Peru. As drogas da região são contrabandeadas por via fluvial e aérea, bem como por jovens que viajam a pé pela floresta até a fronteira brasileira. (Foto: Pamela Huerta | InfoAmazonia)
Vai demorar alguns dias até o momento do contato, quando um homem peruano que entrega as drogas aos traficantes brasileiros, paga aos rapazes e diz que podem voltar para casa. O pagamento depende da remessa, e um grupo de cinco mochileiros pode ganhar cerca de R$ 14 mil pelo transporte de 75 quilos de cocaína. A remuneração depende da distância e do peso da carga.
Os três estão entre as dezenas de jovens que transportam drogas das áreas de produção em Ucayali para Breu, onde lanchas estreitas e de alta potência as levam para cidades no Brasil. Com base em relatos de jovens detidos, a polícia no Brasil identificou vários pontos onde os mochileiros peruanos atravessam a fronteira e os traficantes escondem drogas.
Segundo fontes policiais, o homem que recebeu o carregamento dos três jovens mochileiros assedia líderes indígenas locais que falam sobre a expansão do tráfico de drogas na área. Durante uma reunião de indígenas do Peru e do Brasil em abril de 2022, dizem eles, ele ficou do lado de fora filmando os participantes. A polícia confiscou seu telefone e apagou as fotos e vídeos, mas não apresentou nenhuma acusação.
A polícia e os moradores locais dizem que os traficantes oferecem “amostras” de drogas para jovens em pequenas cidades e comunidades indígenas. Eles também recrutam jovens e alguns adultos para trabalhar como guias para traficantes de drogas. Um dos jovens Ashéninka diz que 10 horas de caminhada valiam 100 soles (R$ 135). “O que mais você vai fazer aqui?”, ele pergunta. Realmente, o único trabalho é na agricultura de subsistência ou empregos temporários ocasionais em escritórios municipais, e há poucas chances de educação após o ensino médio, ou mesmo o ensino fundamental em algumas áreas.
Os mochileiros falam em usar seus ganhos para comprar terras ao redor de Breu.
“Você pode começar um negócio. Dessa forma, você não precisa andar e pode ganhar dinheiro com mais facilidade, sem tanta dor nas pernas”, fala um deles, com uma risada. Outro acrescenta: “Um pequeno bar ou uma loja. Você pode fazer um negócio a partir de qualquer coisa. Você só precisa do capital.”
Mas sair do negócio do narcotráfico pode ser muito mais difícil do que entrar.
Quando María “caiu em desgraça”, como se refere à sua prisão em Pucallpa, não compreendeu inteiramente o que tinha acontecido. Ao montar as peças do quebra-cabeça que levaram à sua sentença de cinco anos, ela percebeu que o homem que considerava seu namorado tinha algo a ver com isso, mas ela não tinha certeza do quê. Ela nega que ainda tenha sentimentos por ele e mostra as marcas de tinta onde tentou apagar a tatuagem que ele fez nela. Como riscar um erro, mas na pele dela.
Ela sabe o que é o CV? “Claro. Ele também pertence a essa rede criminosa”, diz ela.
“Eles realmente me assustam. São pessoas que não gostam de mentiras. Eles são muito disciplinados no que fazem. Eles não usam celulares ou algo assim. Eles simplesmente chegam a um lugar e as pessoas estão esperando por eles”, diz María sobre o CV. Ela viu de perto, mas diz que nunca se envolveu, por medo e por amor. Pelo menos, era isso que ela acreditava até ser pega.
Na prisão, conheceu outra mulher que era membro do CV. Elas tinham histórias semelhantes.
“É perigoso falar sobre eles. Eles funcionam com códigos”, tatuagens que mostram que uma pessoa pertence à organização, diz María. É um dos muitos mecanismos que o grupo utiliza para controlar os seus membros.
Quando sua amiga se juntou ao grupo, María conta que eles deram um código para ela, uma tatuagem mostrando que ela pertence à organização. “Esse código ainda está ativo, apesar de ela estar na prisão. Onde quer que ela esteja, estará sempre ativo e ela tem que responder [se for contactada]”, acrescenta.
Fontes da Unidade Regional de Inteligência da Polícia Nacional confirmam que os membros do CV brasileiro tendem a ser muito reservados e evitam se expor. Eles utilizam operadores peruanos que acompanham de perto. Além do tráfico de drogas, a organização criminosa está envolvida em assassinatos de aluguel e tráfico de armas, de acordo com fontes policiais em Ucayali.
“Eles basicamente usam mulheres para transportar drogas. Mas, ao fazer isso, você pertence ao CV”, diz María sobre o papel das mulheres peruanas na organização criminosa. Quando sua amiga for libertada da prisão, “os vermelhos vão saber. Eles vão encontrá-la e obrigá-la a fazer a mesma coisa”, acrescenta. “Uma vez que você está dentro, não é fácil sair.”
O controle do CV sobre o território em Ucayali não seria possível sem os peruanos que são assimilados à organização como produtores e operadores logísticos na rede de tráfico de drogas liderada pelo Brasil. Os líderes não deixam pontas soltas nem permitem fugas. Eles controlam toda a cadeia, desde os suprimentos para a produção de base de cocaína até a compra e transporte da mercadoria.
Acima de tudo, porém, eles controlam os seus membros. Se um traficante de drogas local tentar vender o seu produto a uma organização que não seja o CV, eles vão descobrir e fazê-lo pagar pela sua traição, contam fontes policiais. Não é uma questão de lealdade, mas uma forma de controle.
“Eles controlam as rotas fluviais, os suprimentos químicos, têm barcos para logística”, diz um agente do Escritório Regional de Inteligência da Polícia. “Basicamente, eles vêm para Pucallpa para obter suprimentos, eles os levam para Abujao e os vendem lá para os patrones [produtores de drogas] que gerenciam as colheitas. Mas então os patrones têm que vender para eles as drogas que produzem, porque eles não podem transportar as drogas sem [o CV] descobrir. Eles têm vigias ao longo dos rios e tudo é relatado.”
María resume tudo de forma mais sucinta. “O CV sabe tudo”, afirma. “Estar com eles é como estar em outra prisão”.
Essa outra prisão também é em Ucayali. Embora não tenha barreiras, não há escapatória. O grupo transformou esta região em um dos seus centros de operação e encontrou novos adeptos entre os peruanos.
María acha que é possível sair do CV?
“Sem chances”, diz ela. “Apenas indo para longe. Ou morta.”
* Os nomes foram alterados.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Comando Vermelho cria raízes na Amazônia peruana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU